Kit DDR5 de 256 GB da Asgard custa preço de RTX 5090

O lançamento de kits de memória DDR5 de altíssima capacidade pela fabricante chinesa Asgard acendeu um sinal de alerta no mercado de hardware: um kit de 256 GB chegou a ser anunciado com preço similar — ou superior — ao de uma GPU topo de linha, como a NVIDIA GeForce RTX 5090. Esse fato não é apenas curioso: ele resume uma crise de oferta e demanda que vem pressionando preços de DRAM desde 2024 e que tende a se estender pelos próximos anos.

A Asgard colocou em pré-venda duas edições limitadas de módulos DDR5 no mercado chinês — o kit Thor de 192 GB (4×48 GB) e o Valkyrie II de 256 GB (4×64 GB). Ambos com 6000 MT/s e usando chips SK Hynix M-die, eles se apresentam ao público com PCBs de 10 camadas, dissipadores robustos e, no caso do Valkyrie II, iluminação RGB e acabamento premium. O preço do kit de 256 GB subiu na loja JD.com de ¥ 14.599 para ¥ 16.999, o que, na cotação atual usada por muitos veículos, aproxima o valor de R$ 13 mil — na mesma faixa ou acima do MSRP esperado para algumas GPUs de alto desempenho.

Especificações técnicas e diferenciais

Os detalhes técnicos são, em si, impressionantes. O kit Asgard Thor (192 GB) traz quatro módulos de 48 GB com timings CL28-36-36-72 a 6000 MT/s, dissipador em fibra de carbono e PCB de 10 camadas. Já o Asgard Valkyrie II (256 GB) utiliza quatro pentes de 64 GB, timings CL32-45-45-90 e um dissipador de 2 mm com revestimento especial — além de RGB e o mesmo PCB de 10 camadas. Ambos alojam chips M-die da SK Hynix e incluem PMICs para gerenciamento de voltagem e estabilidade.

Tais especificações os colocam num patamar técnico superior ao que era acessível ao consumidor médio até pouco tempo. PCBs com 10 camadas e dissipadores robustos são normalmente associados a módulos voltados a workstations e servidores. No entanto, o diferencial aqui é a disponibilidade — ainda que limitada — ao público geral através de varejistas chineses.

Por que o preço é tão alto?

O aumento extremo dos preços de kits de alta capacidade tem razões claras e combinadas. Primeiro, há a escassez global de DRAM que começou com readequações industriais e se aprofundou com a explosão de demanda por memória em projetos de Inteligência Artificial e centros de dados. Segundo, grandes clientes corporativos — datacenters e empresas de IA — têm prioridade nas cadeias de fornecimento, reduzindo o volume disponível para o varejo. Terceiro, movimentos estratégicos de fabricantes e fornecedores, como a saída parcial de players (a exemplo da Micron do mercado de consumo, em notícias recentes), comprimem ainda mais a oferta.

Esses fatores criam um ambiente em que módulos de alta capacidade se tornam itens de nicho, com margem e preço que refletem não apenas custo de produção, mas também arbitragem entre oferta reduzida e demanda específica. Para consumidores finais e entusiastas, isso significa que montar máquinas com grandes quantidades de RAM se tornou substancialmente mais caro — em alguns casos, tão caro quanto montar uma plataforma gráfica de ponta.

Impacto prático para consumidores e profissionais

Na prática, kits como o de 256 GB são direcionados a casos de uso específicos: máquinas para edição de vídeo em alta resolução, workloads de dados em memória (in-memory databases), desenvolvimento e inferência local de modelos de IA, máquinas virtuais e ambientes de renderização profissional. Para jogadores, o benefício direto de 256 GB é marginal — a maioria dos jogos atuais continua a operar perfeitamente com 16–32 GB. Já profissionais e empresas que precisam de grandes bancos de dados em memória encontram valor, mas pagam um prêmio elevado por isso.

Outro efeito colateral é que a percepção de “valor” muda no mercado: com memória tão cara, o custo de atualização de plataformas aumenta significativamente, pressionando orçamentos de estúdios, laboratórios de pesquisa e até mesmo estantes de empresas que operam infraestrutura de ponta.

Disponibilidade e reações do mercado

Os kits Asgard foram listados na JD.com e rapidamente entraram como “indisponíveis” — um padrão comum quando um produto limitado esgota estoque inicial. Isso sugere que, mesmo com preço alto, havia demanda imediata naquele canal. Resta saber se a Asgard repetirá lotes e como será a distribuição para outros mercados fora da China.

Enquanto isso, a comunidade técnica debate se a chegada desses módulos ao varejo é um sinal de normalização (mais opções chegando) ou de um pico pontual de preços que marcará o ápice de uma crise prolongada. A resposta dependerá de variáveis como reinvestimento em capacidade fabril, estabilidade na cadeia de suprimentos e decisões estratégicas de fornecedores de grande escala.

Comparativo rápido: kits Asgard vs GPU de topo

Item Asgard Valkyrie II (256 GB) Asgard Thor (192 GB) Referência GPU (RTX 5090)
Capacidade 256 GB (4×64 GB) 192 GB (4×48 GB) — (GPU)
Frequência DDR5-6000 MT/s DDR5-6000 MT/s
Timings CL32-45-45-90 CL28-36-36-72
Preço listado (JD.com) ¥ 16.999 (~R$ 13.072) ¥ 8.599 (~R$ 6.613) MSRP variável; alguns mercados cotam RTX 5090 em torno de R$ 10–13k
Public alvo Profissionais e entusiastas com workloads pesados Workstations e criadores de conteúdo Jogadores extremos e profissionais gráficos

Projeções e possíveis cenários

Analistas de mercado estimam que a pressão sobre preços de DRAM deve persistir até pelo menos o final de 2027, com um ponto crítico entre meados e o fim de 2026. Se grandes fornecedores manterem foco prioritário em clientes corporativos e data centers, o mercado consumidor poderá conviver com preços elevados por vários trimestres. Por outro lado, investimentos em novas linhas de produção por parte de fabricantes como SK Hynix e Samsung, se acelerados, poderiam aliviar a escassez mais rapidamente.

Outro fator que pode alterar o cenário é a evolução tecnológica: novos tipos de memória, compressão de dados e arquiteturas que reduzam dependência de grandes quantidades de DRAM podem moderar demanda. Entretanto, no curto prazo, a combinação de oferta restrita e demanda por IA mantém a memória como commodity cara.

Conclusão

O aparecimento de kits DDR5 de 256 GB ao preço de uma GPU flagship sintetiza a crise atual: memória está cara, infraestruturas para IA demandam cada vez mais recursos e o consumidor final sente o impacto. Enquanto esses produtos satisfazem nichos profissionais e oferecem tecnologias impressionantes — PCBs de 10 camadas, dissipadores sofisticados e chips M-die da SK Hynix —, o preço elevado levanta uma questão prática: para a maioria dos usuários, a compra não é justificada.

A trajetória de curto a médio prazo dependerá de decisões industriais, da chegada de novas capacidades de produção e da evolução dos requisitos de hardware das aplicações de IA. Até lá, entusiastas, empresas e integradores terão que ponderar entre necessidade técnica e custo, enquanto o mercado observa se essa tendência vai estabilizar ou escalar ainda mais.