
O risco real de apagão da internet por sabotagem submarina
Os cabos submarinos são estruturas invisíveis aos olhos, mas determinantes para o funcionamento do mundo moderno. Eles cruzam oceanos, conectam continentes e sustentam praticamente toda a comunicação global. Hoje, mais de 95% do tráfego mundial de dados passa por esses cabos. Isso inclui pagamentos bancários, mensagens, vídeos, transações comerciais, informações governamentais e praticamente tudo o que chamamos de internet. Apesar disso, essa infraestrutura permanece vulnerável, pouco protegida e cada vez mais exposta a tensões geopolíticas que colocam em risco sua integridade.
Nos últimos anos, especialistas e centros de pesquisa vêm alertando para a escalada de sabotagens em diversas partes do mundo. E, com essas ocorrências, cresce também o temor de um possível apagão global — ou regional — da internet caso esses cabos sejam destruídos de forma coordenada. O debate, que antes era restrito a círculos militares e técnicos, agora chega ao público porque os impactos de um rompimento não seriam apenas tecnológicos: atingiriam economias, mercados, governos e sociedades inteiras.
A espinha dorsal da globalização em risco
Segundo levantamento da plataforma Total Telecom, havia cerca de 500 cabos submarinos em funcionamento em 2021, somando mais de 1,3 milhão de quilômetros de extensão. Hoje, esse número é ainda maior, já que novas rotas são instaladas para suportar o crescimento da demanda global. Com tanta dependência, cada ruptura torna-se um alerta.
De acordo com Johannes Peters, coordenador do Centro de Estratégia e Segurança Marítima da Universidade de Kiel, na Alemanha, praticamente toda a comunicação do planeta depende dessas conexões subaquáticas. Ele afirma que a troca de informações que sustenta serviços financeiros, redes sociais, serviços públicos, operações militares e até rotinas domésticas depende desses cabos. Assim, um ataque intencional poderia causar danos muito maiores do que uma simples interrupção momentânea na conexão.
Sabotagens no Mar Báltico despertam alerta global
Um dos episódios mais preocupantes ocorreu recentemente no Mar Báltico. Segundo um estudo da Universidade de Washington, cerca de dez cabos foram rompidos apenas entre 2022 e janeiro de 2025. O mais alarmante é que sete desses casos aconteceram em um curto intervalo entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.
Investigações apontaram indícios como marcas de âncoras ou movimentações suspeitas de embarcações, o que levantou acusações contra a Rússia. Contudo, nenhuma prova conclusiva foi apresentada. Ainda assim, a repetição dos danos sugere que pelo menos parte dos incidentes pode não ter sido acidental.
A China também entrou na lista de suspeitos em alguns episódios. Em novembro de 2024, a Suécia pediu oficialmente cooperação do governo chinês para esclarecer o rompimento de um cabo na região. Isso intensificou debates sobre o uso de sabotagens como ferramenta de pressão geopolítica.
A crescente preocupação no Pacífico
Enquanto isso, na Ásia, cresce o medo de ataques na região do Pacífico, onde cabos conectam países como Japão, Taiwan, Coreia do Sul e Estados Unidos. Em caso de conflito envolvendo a China, essa infraestrutura seria um alvo óbvio — e extremamente estratégico.
Relatórios do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, revelam que a China já possui navios capazes de cortar cabos a até 4 mil metros de profundidade. Além disso, a Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China relatou que o país tem participado de ações de corte de cabos “como forma de pressão na zona cinzenta”, termo usado para atividades que estão abaixo do limiar de guerra declarada, mas que funcionam como ataques indiretos.
O impacto imediato de um cabo rompido
O presidente do Asia Pacific Information Center (APIC), Kenny Huang, explica que a destruição de um cabo principal pode gerar uma interrupção imediata e devastadora. Ele destaca que algumas regiões dependem quase exclusivamente de determinados cabos para se conectar ao restante do mundo.
Em Taiwan, por exemplo, a interrupção de um único cabo poderia isolar toda a ilha. Isso significa paralisação de setores como educação, bancos, forças armadas, agricultura, comércio e serviços essenciais. Numa era em que tudo depende de conectividade, esse tipo de isolamento significa um verdadeiro colapso estrutural.
Comparativo: O que acontece quando diferentes regiões têm cabos rompidos?
| Região | Consequências de uma ruptura | Nível de vulnerabilidade |
|---|---|---|
| Taiwan | Isolamento completo do mundo exterior, interrupção de serviços estratégicos e risco militar elevado. | Extremamente alto |
| Europa (Mar Báltico) | Instabilidade regional, impacto em países interligados e aumento das tensões com Rússia e China. | Alto |
| Estados Unidos | Redundância maior, mas ataques coordenados podem afetar setores financeiros e militares. | Médio |
| Brasil e América Latina | Risco de lentidão extrema e interrupções caso múltiplos cabos sejam afetados ao mesmo tempo. | Médio |
Cabos submarinos podem ser espionados
Além da destruição física, existe o risco de interceptação de dados. Publicações como a Global Defense Insight alertam que adversários podem explorar vulnerabilidades técnicas para captar informações estratégicas. Isso significa que cabos não são apenas um alvo militar, mas também um ponto sensível de espionagem global.
O Mar Báltico como laboratório de guerra híbrida
Segundo especialistas, o Mar Báltico se tornou um verdadeiro laboratório para testar táticas de guerra híbrida marítima. A China, por exemplo, estaria observando atentamente como o Ocidente responde aos incidentes, tentando identificar falhas jurídicas, logísticas e técnicas. A ideia é entender até onde é possível avançar sem desencadear uma resposta militar tradicional.
Medidas para evitar o apagão global
Para reduzir riscos, especialistas sugerem três frentes essenciais: avanços legais, melhorias técnicas e cooperação internacional.
No campo jurídico, países estudam leis que permitam punir de forma mais rígida a destruição proposital desses cabos. No campo técnico, empresas trabalham para criar planos de contingência multilayer, que redirecionam o tráfego em caso de ruptura — embora isso nem sempre seja possível. Já na esfera estratégica, aliados no Pacífico têm excluído empresas chinesas de projetos que envolvem infraestrutura crítica, visando aumentar a segurança.
O Japão, por exemplo, tem instalado cabos mais distantes uns dos outros, dificultando ataques coordenados. Outra medida seria delimitar áreas de navegação restrita em trechos sensíveis e instalar sensores para detectar atividades suspeitas no fundo do mar.
Conclusão
A ameaça de um apagão na internet por sabotagem não é ficção científica. É uma possibilidade real, reconhecida por governos, militares e especialistas. A infraestrutura que sustenta o mundo digital é essencial, mas vulnerável. E, à medida que tensões geopolíticas aumentam, cresce também o risco de ataques coordenados que podem comprometer cadeias de comunicação inteiras.
Blindar os cabos submarinos é, portanto, não apenas uma necessidade técnica, mas uma estratégia global para garantir estabilidade econômica, segurança nacional e o funcionamento básico da sociedade contemporânea.
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