Perigo crescente: malware com IA ataca o WhatsApp Web no Brasil e desafia até antivírus

Nos últimos meses, o ecossistema digital brasileiro voltou a enfrentar uma ameaça particularmente preocupante. A Trend Micro confirmou a evolução do malware Water Saci, agora impulsionado por mecanismos de inteligência artificial capazes de reescrever, adaptar e aperfeiçoar o próprio código. Essa transformação amplia significativamente sua capacidade de infecção, sobretudo entre usuários do WhatsApp Web, um dos serviços de comunicação mais utilizados no país. A seguir, analisamos em profundidade como esse malware funciona, por que ele representa uma ameaça inédita e o que especialistas recomendam para reduzir os riscos.

O avanço do Water Saci e o uso inédito de inteligência artificial

O Water Saci não é uma descoberta recente. Ele já havia sido identificado em campanhas anteriores, incluindo ataques ligados ao SORVEPOTEL. Contudo, o cenário atual é muito mais crítico. A Trend Micro detectou que o malware passou por uma evolução estrutural ao incorporar IA de maneira ativa. Isso significa que, em vez de depender exclusivamente de versões criadas por operadores humanos, o software malicioso agora gera variantes próprias, mais complexas, mais agressivas e mais difíceis de detectar.

Esse movimento representa um ponto de inflexão no campo da cibersegurança. Pela primeira vez, um malware amplamente disseminado no Brasil consegue, sozinho, identificar pontos fracos e criar ataques ajustados. Dessa forma, a eficácia de antivírus tradicionais é drasticamente reduzida, já que suas assinaturas de detecção não conseguem acompanhar a velocidade de mutação proporcionada pela IA.

Por que o WhatsApp Web se tornou o principal alvo

A escolha do WhatsApp Web como alvo não é aleatória. O serviço possui milhões de usuários brasileiros que o utilizam diariamente tanto para atividades pessoais quanto profissionais. Além disso, seu uso por meio de navegadores facilita ataques baseados em engenharia social e scripts remotos, especialmente quando o usuário mantém sessões ativas por longos períodos.

De acordo com os pesquisadores, o Water Saci explora um conjunto de vulnerabilidades comportamentais — e não necessariamente falhas técnicas do WhatsApp. Ele aposta que o usuário clique em arquivos supostamente inofensivos, como documentos PDF, atualizações falsas do Adobe Acrobat ou pacotes ZIP enviados por contatos que, em muitos casos, foram comprometidos anteriormente.

Essa abordagem reduz a necessidade de explorar vulnerabilidades complexas. Em vez disso, o malware foca em manipular o usuário, aproveitando-se da confiança gerada pelas conversas do WhatsApp e pelo cenário cotidiano de troca de documentos.

Como o Water Saci age dentro do computador

Depois que o usuário interage com o arquivo malicioso, o ataque começa de maneira silenciosa. Em alguns casos, o conteúdo enviado é um arquivo .hta, capaz de executar scripts quase instantaneamente, antes mesmo que o usuário perceba qualquer anomalia. O malware se vale de técnicas de camuflagem para ocultar sua origem e suas ações, dificultando o rastreamento por sistemas de proteção.

Uma vez instalado, o Water Saci cria um arquivo chamado C:\temp\instalar.bat. Esse arquivo não apenas inicia sua cadeia de instalação, como também executa scripts Python maliciosos preparados para monitorar o navegador. Eles verificam todos os acessos a plataformas bancárias e soluções de segurança instaladas na máquina.

A Trend Micro identificou que o malware tenta interferir em quase 20 aplicativos de proteção digital e também monitora acessos a instituições financeiras, como Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander. Essa combinação indica que o Water Saci tem capacidade para roubar credenciais, mapear hábitos digitais e preparar ataques secundários.

A capacidade de adaptação contínua torna o cenário mais crítico

O elemento mais alarmante da nova versão do Water Saci não está na sua engenharia original, mas em sua capacidade de mutação. Como a IA integrada gera códigos diferentes a cada tentativa de infecção, o malware passa a operar de maneira semelhante a um organismo vivo, capaz de se adaptar rapidamente a novos ambientes.

Isso significa que, mesmo que empresas de cibersegurança identifiquem e bloqueiem uma variante, outra surge logo em seguida com elementos suficientes para escapar das assinaturas criadas. Esse comportamento reforça uma tendência preocupante: ataques cibernéticos automatizados e autossuficientes estão se tornando realidade.

O uso de IA para criar mutações também amplia o alcance dos ataques, já que permite ajustes para diferentes regiões, sistemas operacionais e hábitos dos usuários. Em outras palavras, o malware se torna mais eficiente quanto mais tempo permanece operando e coletando dados.

A crescente dificuldade dos antivírus em acompanhar as ameaças

Embora soluções de segurança permaneçam essenciais, o cenário atual evidencia um desafio crescente. Antivírus tradicionais dependem, em grande parte, de assinaturas de detecção conhecidas. Isso funciona bem contra ameaças estáticas, mas perde eficiência quando confrontado com códigos em constante evolução.

Segundo especialistas, o Water Saci implementa múltiplas camadas de ofuscação, aproveitando rotinas automatizadas de IA para modificar trechos do próprio script. Com isso, softwares de segurança podem detectar a ameaça um dia, mas falhar completamente no dia seguinte.

Essa dinâmica coloca usuários e empresas em posição vulnerável, especialmente aqueles que não mantêm boas práticas de cibersegurança ou que utilizam navegadores e sistemas desatualizados.

Como reduzir o risco de infecção

Embora nenhuma medida ofereça segurança absoluta diante de um malware capaz de evoluir sozinho, é possível adotar práticas que diminuem consideravelmente o risco. A primeira delas é manter o sistema operacional, navegadores e plugins sempre atualizados. Essas atualizações costumam corrigir falhas de segurança que podem ser exploradas por scripts maliciosos.

Além disso, é essencial evitar clicar em arquivos recebidos de remetentes suspeitos, especialmente quando se trata de documentos ZIP, PDFs inesperados ou supostas atualizações do Adobe. Em contextos corporativos, reforçar treinamentos de conscientização sobre phishing é igualmente importante.

Especialistas recomendam ainda ativar a autenticação em duas etapas no WhatsApp e em outros serviços críticos. Esse recurso dificulta o acesso de terceiros, mesmo que as credenciais tenham sido capturadas. Por fim, manter soluções de segurança atualizadas — embora não infalíveis — continua sendo uma camada crucial de proteção.

Conclusão: uma ameaça que redefine os limites da cibersegurança

O surgimento da nova versão do Water Saci demonstra que estamos entrando em uma era em que malwares impulsionados por IA serão cada vez mais comuns. Essa evolução cria desafios inéditos para empresas de tecnologia, desenvolvedores de antivírus e usuários comuns. No Brasil, o fato de o WhatsApp Web estar entre os principais alvos torna a ameaça ainda mais relevante, já que milhões de pessoas dependem do serviço diariamente.

Ao compreender como essa ameaça opera e ao adotar medidas preventivas, é possível reduzir o impacto dos ataques. Entretanto, o cenário atual deixa claro: a cibersegurança precisa evoluir no mesmo ritmo — ou até mais rápido — do que os mecanismos de ataque movidos por inteligência artificial.

Precisa de suporte ou deseja mais detalhes? Entre em contato pelo WhatsApp!